entrevista a David Pontes, 31 de Outubro de 2013.

Apresenta-te e conta-me como chegaste ao teu interesse pela joalharia.

Chamo-me David Pontes, nasci em 1979. Vivo e trabalho em Lisboa. Quando era miúdo, tive o privilégio de viver rodeado de colecções, de objectos, algumas jóias e pequenas preciosidades. Aos dezassete anos, lembro-me que só pensava em aprender um ofício. Interessei-me por ourivesaria. Aos dezoito estava na escola profissional em Gondomar. Foi uma escolha muito natural. Também me interessava por restauro e pelo ofício de luthier. Mas foi o ofício da ourivesaria que me atraiu mais. E não perdi a oportunidade quando me chamaram.

Descrever-te-ias como um artista joalheiro ou como um joalheiro? A joalharia é uma arte de detalhe?


A joalharia é uma arte de detalhe sim. De pormenor. É uma arte refinada e apurada ao máximo do corpo humano. A joalharia é a arte que se junta a nós: toca-nos. Eu gosto muito de trabalhar o ouro. Mas está muito caro para realizar joalharia. 
Na verdade, a mim cabe-me vestir o papel tanto de artista-joalheiro, como de joalheiro-artista, bem como de ourives. O que posso dizer é que é uma das maiores motivações que tenho na vida. É ter momentos em que, através da joalharia, me expresso da maneira mais livre que consigo. Pode-me dar muito gozo ter a sensação de total libertação ao ponto de esquecer as normas. Também posso ter outras sensações. Cada vez que crio, cresço! Crio para poder colocar as pessoas em diálogo, a ver, a sentir. Se possível, proporcionar-lhes um momento ou, melhor ainda, uma revelação. E é curioso sentir como a arte de trabalhar o ouro tangencia a arte de criar.

Conta-me um pouco do teu percurso académico e profissional.

Depois de terminar o curso profissional de três anos no CINDOR, volto para Lisboa em 2001. Passei por algumas empresas industriais onde expandi os conhecimentos técnicos e posteriormente trabalhei na escola Contacto Directo. Paralelamente trabalhei em atelier próprio respondendo a diversas encomendas. Em 2008 pude prosseguir estudos no departamento de joalharia no Ar.Co, onde concluí o plano de estudos básicos de joalharia e realizei um projecto individual no qual fui bolseiro.

Actualmente dou aulas de Técnicas de Ourivesaria I, no curso regular no departamento de joalharia do Ar.Co, participo em eventos e exposições no âmbito da joalharia, dou continuidade aos meus projectos e dou resposta a encomendas de particulares.

O que te deu e dá mais prazer em criar?

Um exercício que me deixa radiante é de transportar o nível das ferramentas ao nível das jóias. Eu tenho as ferramentas como as minhas maiores jóias. Agrada-me a ideia de transmudar os valores e os sentidos, aos diferentes objectos e utensílios. Por esse motivo o trabalho da estelheira é-me tão íntimo. (Mas também porque levou 10 anos a ser criado).

Como disse na apresentação, tudo começou em me interessar por ourivesaria. É o meu berço e é um ofício esplendoroso. É motivo de muito orgulho tê-lo aprendido. Para mim, por agora e enquanto criador, o oficio de joalharia acaba por ser principalmente uma fonte de inspiração.

Se pudesses criar uma jóia dedicada a Lisboa, o que seria?

Uma coroa ou uma tiara. Sim, é isso, Lisboa merece uma tiara. Uma tiara que fosse tão encantadora como é a própria Cidade.

Por acaso, lembrei-me agora que tenho andado a experimentar trabalhar diferentes tipos de madeira. É terreno que ainda não explorei muito. Por isso tenho andado a coleccionar alguns troncos de madeira que as árvores da cidade me ofereceram. Talvez possa nascer daí alguma jóia dedicada a Lisboa.

O que podemos esperar de ti em termos de criação?

Vou continuar a investir em ideias que já tenho andado a trabalhar. São projectos longos que se dividem em varias fases. Continuarei a trabalhar com metais, matérias orgânicas e a transformar ferramentas. Estarei sempre atento à possibilidade de identificar novas entidades aos objectos do quotidiano.


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